domingo, 6 de julho de 2014

Porquê?


Lisboa está cheia de turistas. Vieram à procura do sol e por cá ficaram à espera a ver se ele chega.

É cientificamente provado que todo o turista está na idade dos porquês. Quer saber porque é que os sítios que visita são como são. Atento, repara em detalhes que mais ninguém vê e, assim sem mais nem menos, sai-se com um Porquê para o qual não estamos preparados.

O turista lisboeta, se assim se lhe pode chamar, não é diferente dos outros. Pergunta atrás de pergunta, faz-me pensar que se eu não fosse de cá, ia achar esta cidade muito estranha.

Porque é que não está sol?

Porque é que falam tão alto?
Porque é que têm a bandeira nacional pendurada em todas as janelas e varandas?
Porque é que não gostam de espanhóis?

Porque é que os carros buzinam tanto?
Porque é que as pessoas se vestem de tantas cores?
Porque é que são todos tão simpáticos?

Porque é que não está sol?

Porque é que há tantos prédios degradados no centro da cidade?
Porque é que deixam o lixo à porta dos prédios?
Porque é que o aeroporto é dentro da cidade?

Porque é que os bolos são tão pequenos?
Porque é que comem arroz com tudo?
Porque é que comem sempre frango?

Porque é que não está sol?

Porque é que o fado é triste se vocês até são alegres?
Porque é que bebem uns cafés tão pequeninos?
Porque é que comem tudo com coentros?

Porque é que não está sol?

Com tanta pergunta qualquer lisboeta acaba com questões existenciais. Já bastava o sol estar atrasado e ainda tem que dissertar acerca das buzinas, do aeroporto e do frango.

Como amante da cidade, o alfacinha lá vai explicando o melhor que sabe aquilo que é muitas vezes inexplicável. Sempre com um sorriso nos lábios e ar de entendido a resposta a todos estes porquês é tão óbvia que até custa a crer que os perguntadores não a sabem. Porque sim.