Lisboa está cheia de
turistas. Vieram à procura do sol e por cá ficaram à espera a ver
se ele chega.
É cientificamente
provado que todo o turista está na idade dos porquês. Quer saber
porque é que os sítios que visita são como são. Atento, repara em
detalhes que mais ninguém vê e, assim sem mais nem menos, sai-se
com um Porquê para o qual não estamos preparados.
O turista lisboeta, se
assim se lhe pode chamar, não é diferente dos outros. Pergunta
atrás de pergunta, faz-me pensar que se eu não fosse de cá, ia
achar esta cidade muito estranha.
Porque é que não está
sol?
Porque é que falam tão
alto?
Porque é que têm a
bandeira nacional pendurada em todas as janelas e varandas?
Porque é que não gostam
de espanhóis?
Porque é que os carros
buzinam tanto?
Porque é que as pessoas
se vestem de tantas cores?
Porque é que são todos
tão simpáticos?
Porque é que não está
sol?
Porque é que há tantos
prédios degradados no centro da cidade?
Porque é que deixam o
lixo à porta dos prédios?
Porque é que o aeroporto
é dentro da cidade?
Porque é que os bolos
são tão pequenos?
Porque é que comem arroz
com tudo?
Porque é que comem
sempre frango?
Porque é que não está
sol?
Porque é que o fado é
triste se vocês até são alegres?
Porque é que bebem uns
cafés tão pequeninos?
Porque é que comem tudo
com coentros?
Porque é que não está
sol?
Com tanta pergunta
qualquer lisboeta acaba com questões existenciais. Já bastava o
sol estar atrasado e ainda tem que dissertar acerca das buzinas, do
aeroporto e do frango.
Como amante da cidade, o
alfacinha lá vai explicando o melhor que sabe aquilo que é muitas
vezes inexplicável. Sempre com um sorriso nos lábios e ar de
entendido a resposta a todos estes porquês é tão óbvia que até
custa a crer que os perguntadores não a sabem. Porque sim.