Um dos meus sítios
mágicos de Lisboa é o Aeroporto Internacional de Lisboa, mais
conhecido por Aeroporto da Portela. Pelo-me por dar lá um saltinho.
E não tem que ser para viajar.
Aquele emaranhado de
gente que chega ou parte ou espera tem sobre mim um fascínio
misterioso. Tudo ali é temporário. Ninguém permanece.
Chegadas.
Chegam em grandes molhos
para passar férias, para fazer grandes negócios, para trabalhar,
para regressar a casa. Uns com a alegria escancarada no rosto. Com
roupas estranhas, tranças no cabelo e malas grandes e cheias.
Outros, sérios e impenetráveis. Olhares sisudos que não me deixam
perceber se vêm para para uma festa ou para um funeral. Há sempre
olhos molhados pelo aconchego do reencontro.
Partidas.
Partem em bandos. Com
tons avermelhados de quem esteve aqui a aproveitar o nosso sol e
regressam com a alma iluminada pela vitamina D aos seus países de
pouca luz. Nas mochilas, toalhas com o Galo de Barcelos estampado,
imans de frigorífico em forma de Torre de Belém e Fado. Outros
abalam daqui em busca do futuro que o país não lhes pode dar. Vão
para a Europa civilizada ou para a África dos ovos de ouro.
Misturam-se as lágrimas de quem fica com as lágrimas de quem vai no
momento da separação. Há sempre olhos molhados pelo abandono da
despedida.
Depois perde-se-lhes o
rasto. Espreita-se um bocadinho da história sem nunca se saber o
começo nem vislumbrar o fim.
O Aeroporto da Portela
foi inaugurado em 15 de Outubro de 1942. Logo a seguir abriu o
Aeroporto de Cabo Ruivo. Os voos transatlânticos eram feitos por
hidroavião desde os anos 30. Os aviões poisavam no Tejo ali à
beira de onde hoje está o Parque das Nações. Os passageiros vinham
de automóvel pela Avenida Entre-os-Aeroportos que agora se chama
Avenida de Berlim e iam apanhar os voos de ligação ao resto da
Europa à Portela. Muito prático. Para a época.
Hoje, só ficou a
Portela. A sete quilómetros do centro da cidade, é de fácil
acesso. Tem o parque de estacionamento mais caro da cidade. Talvez
por isso, um clássico das Chegadas, seja ver os automóveis a
circular naquela espécie de rotunda muito devagarinho até pararem
num sitio onde a polícia não os possa topar. E ver a polícia a
circular muito devagarinho para os apanhar e por a andar.
Houve já várias
tentativas de tirar o aeroporto dali. Que é pequeno. Que é
demasiado dentro da cidade. Que pode ser perigoso ter os aviões a
aterrarem tão perto das habitações. Mas que sabe bem aterrar e
estar a um saltinho de casa, sabe.
Gosto de lá ir. Gosto de
lá ir buscar os amigos que chegam. Gosto de lá ir abraçar os
amigos que partem. Gosto de lá ir e partir. Gosto de lá ir porque
regresso. É tão bom ver a Portela da janela do avião e pensar,
cheguei a casa.