Desde o primeiro dia que pus o pé
nesta cidade que sonho ir-me embora depressa. Não me interpretem mal. Adoro
Lisboa como um fadista adora a saudade. Quero permanecer por cá muito tempo. Porém,
como não sou de cá e tenho uma terra lá longe, quando toca a ir a casa, a
distância física e temporal da viagem abate-se sobre mim e tira-me a vontade de
arrancar.
Nos primeiros anos ia e vinha de
autocarro. Na Carrís até ao Saldanha. Descia a Casal Ribeiro com uma mala,
ainda anterior a período das rodinhas, e mergulhava no reservatório de Monóxido
de Carbono que era a garagem da Rodoviária. Depois, se a saída de Lisboa fosse
fluída e a A1 permitisse, em três horas e meia estava a entrar na Central de
Camionagem de Viseu onde o meu pai me esperava com paciência e um sorriso.
A dada altura tomei a decisão de
ir de comboio. Uma viagem de três horas sem filas de trânsito, com casa de banho
e um bar que dá aquele toque de solidão romanceada ao viajante. Na estação de
Santa Comba Dão lá esperava, como sempre, o meu pai. E eram só mais 30 Kms até
casa.
Quando comprei o meu carro,
comecei a fazer-me à A1 apetrechada de músicas para ouvir e cantarolar todo o
caminho, no volume que me apetecesse. Uma cumplicidade entre mim, o rádio e a
estrada. Uma cantoria de três horas.
Mas a verdade é que é sempre
tempo demais. Ter a família a três horas é uma distância demasiado grande. Por
isso, sempre sonhei que um dia iria de avião. Entraria num avião e, num
saltinho literal, estaria lá na Beira. Um sonho com 22 anos que se tornou real
na semana passada. E só quem está longe de casa pode medir o longo comprimento
da minha felicidade. É que, finalmente, uns senhores de uma companhia aérea
resolveram fazer aquele lugar-comum do encurtar as distâncias ter espaço para
mim. A linha aérea Portimão-Bragança está a funcionar desde o princípio do ano
e tem escala em Tires e em Viseu.
E que maravilhoso é o progresso
quando nos leva em 45 minutos para o aconchego da casa dos pais. E como é
engraçado ver que já não se justificam dois livros, uma garrafa de água, um
chocolate e o Ipod para a viagem. Bastamos nós com um sorriso pateta nos lábios
a olhar lá para baixo tentando identificar cidades, montanhas ou barragens.
Quando aquele pequeno avião, com lotação para 15 pessoas, aterra no aeródromo de
Viseu, parece que ultrapassámos a velocidade da luz. O tal saltinho.
Ir embora de Lisboa a correr foi
o que sempre quis. Ir a voar, é perfeito. Mas com a rapidez que vou, também
volto. E assim, para esta constante inquietude de querer estar onde não estou, há
agora um novo ansiolítico no mercado. Uma cápsula veloz que actua em 45
minutos.