domingo, 20 de setembro de 2015

Os detalhes.


Lisboa é tão linda, tão linda que vêm gentes de terras longínquas com nomes estranhos e gentes de mais perto só para a mirar. São multidões de olhos indiscretos, ouvidos afinados e palatos limpinhos prontas para conhecer a cidade na sua esplêndida existência. Chamam-se turistas e andam por aí a absorver e a observar cada cantinho da capital que já não é só nossa. Mas que sabe tão bem partilhar. E mostrar. E exibir altivos e vaidosos.

Chegam e dizem coisas. Emitem opiniões e ditam pareceres que deixam o alfacinha boquiaberto e desperto como se a sua velha cidade fosse, afinal, maravilhosa novidade.

Chegam e dizem coisas. Frases estranhas e inocentes. Algumas absurdas, mas sempre a soar a elogio. Sempre com um sorriso que deixa um sorriso a quem escuta.

A saber:

“Lisboa parece Nova Iorque. As ambulâncias soam como nos filmes americanos. Ou então São Francisco, por causa da ponte.”

“ Os portugueses passam a vida a declamar poesia. A língua soa tão bem que parece que rima.”

“ As casas em Lisboa são estranhas. Têm a casa-de-banho ao pé da cozinha.”

“Aqueles bolos que há em todo o lado com peixe e batatas são uma das coisas mais deliciosas que eu já comi.”

“Estou a pensar mudar-me para cá só por causa do marisco.”

“Vim a Lisboa para ver o Cristo-Rei. Faz-me sentir como se estivesse no Rio de Janeiro e gastei menos dinheiro na viagem”

“ Acho que as casas deveriam ter redes mosquiteiras nas janelas. No meu país todas têm.”

“As vossas janelas são pequenas e vocês ainda tapam a luz com cortinas.”

“Os táxis daqui são os mais românticos do mundo.”

“ A comida é barata, as casas são baratas, o sol é de graça, não sei de que é que se queixam.”


Até lhes podíamos explicar de que é que nos queixamos. Mas não vale a pena. É deixá-los ir com esta sensação boa da cidade e agradecer-lhes por trazerem detalhes novos aos nossos olhos habituados.

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