São duas menos um quarto. Ou serão um quarto para as duas?
Depende da zona do país em que estivermos. O fuso horário é muito relativo
e, às vezes, susceptível de nos causar uma sensação de jet-lag avassaladora.
Se estivermos em Lisboa, falta
definitivamente um quarto de hora para qualquer hora à vossa escolha.
Quando cá cheguei achei estes Lisboetas um bocado parolos na maneira de
dizer as coisas. Para além da pronúncia e das expressões, há os palavrões. Não
são palavrões mal-educados. São antes termos trocados que querem dizer
exactamente a mesma coisa. Hoje já digo com eles. E digo mais, nem é assim uma
maneira de falar tão bimba.
As diferenças de dizer enriqueceram-me o falar, mas há algumas que ainda me
soam dissonantes no ouvido e me provocam um sorriso. Ou uma gargalhada.
Vamos a exemplos.
No ramo do calçado temos a clássica dicotomia sapatilha/ténis. Onde eu
nasci, sapatilha é para calçar e ténis é um desporto. Em Lisboa calçam-se
ténis. Sendo que no singular se diz teni. O que eu gosto de ouvir nas
sapatarias: “Posso experimentar o teni que está ali na montra?”. E lá vão eles todos contentes com um teni em
cada pé jogar ténis. Ou futebol, ou andebol, ou correr. Ou.
Na área da culinária é um fartote.
Os tachos tampam-se com testos e os bifes fritam-se num estrugido na sertã.
Certo?
Em Lisboa não. Cada tacho tem a sua tampa e os bifes refogam-se na
frigideira.
Com um dente de alho, sal e pimenta
a gosto, em todo o país.
À tarde come-se uma lancheira ou um chou acompanhados de um fino numa
esplanada da Baixa. Come. Mas não sem antes levar com o ar estupefacto do
empregado de mesa que, num esforço de entendimento nos diz: “Je ne parle pas
Français. Only in English, please.” Então explicamos. Queremos uma merenda ou
um rim e uma imperial. E, sempre vou dizendo que esta coisa de chamar rim a um
bolo, a mim me faz confusão. Bem sei que é pela semelhança de forma. Mas Chou é
que lembra um bolinho recheado com creme de pasteleiro e chocolate por cima.
Que delícia.
Dizer a um Lisboeta que não vale um chícharo não o ofende. Ele não sabe o
que é. O que é muito frustrante, porque dizer que não vale um feijão-frade não
causa em mim o alívio de uma ofensa bem metida.
Em matéria capilar também há sérias diferenças. Para prender o cabelo num
puxinho, usa-se um puxo e ajuda-se com um travessão. Na Beira.
Em Lisboa prende-se o cabelo num rabo-de cavalo, com um elástico e, se for
preciso, mete-se um gancho.
No guarda-vestidos guardam-se os vestidos pendurados nas cruzetas. Nos
guarda-fatos guardam-se os fatos pendurados em cabides.
E mais palavras há que tornam os sítios onde as escutamos especiais e que
se descontextualizam longe da terra onde nasceram. É por isso que este texto
não fica fechado. Não lhe meto um aloquete. Perdão. Um cadeado.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarna matéria capilar a minha experiência é diferente e vem de 20 anos de aulas de ballet no porto vs 5 anos em lisboa:
ResponderEliminar- no porto, um puxo é o cabelo preso num rabo de cavalo com um elástico (ou totó), enrolado e seguro com ganchos abertos (os travessões são fechados e servem para prender as repas).
- em lisboa, o mesmo penteado é um carrapito e, claro, que ninguém sabe o que é um totó e as repas são uma franja.
já agora, em lisboa existem sapatilhas, mas são os sapatos de ballet.
O totó. Como me fui esquecer do totó?
EliminarAs repas não conhecia. Boas danças com as sapatilhas ;)