domingo, 1 de dezembro de 2013

Entre o parolo e o bimbo.




São duas menos um quarto. Ou serão um quarto para as duas?
Depende da zona do país em que estivermos. O fuso horário é muito relativo e, às vezes, susceptível de nos causar uma sensação de jet-lag avassaladora.
 Se estivermos em Lisboa, falta definitivamente um quarto de hora para qualquer hora à vossa escolha.
Quando cá cheguei achei estes Lisboetas um bocado parolos na maneira de dizer as coisas. Para além da pronúncia e das expressões, há os palavrões. Não são palavrões mal-educados. São antes termos trocados que querem dizer exactamente a mesma coisa. Hoje já digo com eles. E digo mais, nem é assim uma maneira de falar tão bimba.
As diferenças de dizer enriqueceram-me o falar, mas há algumas que ainda me soam dissonantes no ouvido e me provocam um sorriso. Ou uma gargalhada.
Vamos a exemplos.
No ramo do calçado temos a clássica dicotomia sapatilha/ténis. Onde eu nasci, sapatilha é para calçar e ténis é um desporto. Em Lisboa calçam-se ténis. Sendo que no singular se diz teni. O que eu gosto de ouvir nas sapatarias: “Posso experimentar o teni que está ali na montra?”.  E lá vão eles todos contentes com um teni em cada pé jogar ténis. Ou futebol, ou andebol, ou correr. Ou.
Na área da culinária é um fartote.
Os tachos tampam-se com testos e os bifes fritam-se num estrugido na sertã. Certo?
Em Lisboa não. Cada tacho tem a sua tampa e os bifes refogam-se na frigideira.
 Com um dente de alho, sal e pimenta a gosto, em todo o país.
À tarde come-se uma lancheira ou um chou acompanhados de um fino numa esplanada da Baixa. Come. Mas não sem antes levar com o ar estupefacto do empregado de mesa que, num esforço de entendimento nos diz: “Je ne parle pas Français. Only in English, please.” Então explicamos. Queremos uma merenda ou um rim e uma imperial. E, sempre vou dizendo que esta coisa de chamar rim a um bolo, a mim me faz confusão. Bem sei que é pela semelhança de forma. Mas Chou é que lembra um bolinho recheado com creme de pasteleiro e chocolate por cima. Que delícia.
Dizer a um Lisboeta que não vale um chícharo não o ofende. Ele não sabe o que é. O que é muito frustrante, porque dizer que não vale um feijão-frade não causa em mim o alívio de uma ofensa bem metida. 
Em matéria capilar também há sérias diferenças. Para prender o cabelo num puxinho, usa-se um puxo e ajuda-se com um travessão. Na Beira.
Em Lisboa prende-se o cabelo num rabo-de cavalo, com um elástico e, se for preciso, mete-se um gancho.
No guarda-vestidos guardam-se os vestidos pendurados nas cruzetas. Nos guarda-fatos guardam-se os fatos pendurados em cabides.
E mais palavras há que tornam os sítios onde as escutamos especiais e que se descontextualizam longe da terra onde nasceram. É por isso que este texto não fica fechado. Não lhe meto um aloquete. Perdão. Um cadeado.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  2. na matéria capilar a minha experiência é diferente e vem de 20 anos de aulas de ballet no porto vs 5 anos em lisboa:
    - no porto, um puxo é o cabelo preso num rabo de cavalo com um elástico (ou totó), enrolado e seguro com ganchos abertos (os travessões são fechados e servem para prender as repas).
    - em lisboa, o mesmo penteado é um carrapito e, claro, que ninguém sabe o que é um totó e as repas são uma franja.

    já agora, em lisboa existem sapatilhas, mas são os sapatos de ballet.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O totó. Como me fui esquecer do totó?
      As repas não conhecia. Boas danças com as sapatilhas ;)

      Eliminar