domingo, 24 de novembro de 2013

Calçada Portuguesa, com certeza.



Volta e meia aparecem uns textos anti-calçada-portuguesa.
Devo confessar que no início fico muito melindrada e acho que todos os argumentos são de alguém cujos saltos altos ficam muitas vezes presos no passeio e, ressabiado, cascou na calçada.
Depois pondero melhor. Leio mais umas vezes e fico sempre exactamente com a mesma opinião.
Eliminar a calçada portuguesa só porque não dá jeito, é a mesma coisa que deitar abaixo a estátua do D. José no Terreiro do Paço só porque tapa a vista para o Cais das Colunas. E, já agora, as colunas do dito cais, em certos pontos de mira, eram mesmo boas para pinos de bowling. Só porque tapam a vista para a banda de lá do rio.
Ficaria a cidade mais confortável se em vez da calçada estivesse ladrilhada com aquela tijoleirazinha espanhola que choca a vista e que também se solta?
Poderíamos voltar a ameaçar alguém com o célebre “Levas com uma pedra do passeio”?
Não.
Nestas coisas sou mesmo tradicionalista e acho que devemos preservar o que é nosso. A Calçada Portuguesa (com maiúsculas porque é património) é uma das belezas mais lindas de Lisboa. E já agora de quase todo o país e de outras terras além-mar. É o que nos ficou do lado usável do Manuelino.
Vão lá dizer ao brasileiros para mandarem cimentar o Calçadão do Rio de Janeiro a ver se eles não vos cantam o samba.
É um consolo para a alma andar de nariz no chão a sonhar que caminhamos sobre rendas de bilros. As mãos dos magos calceteiros criam as colchas deslumbrantes e estendem-nas sobre as ruas. Até dá pena pôr o pé em lavor tão delicado.
Sim, que eu hei-de ser uma eterna turista deslumbrada por Lisboa. Mesmo já sendo como da família, hei-de sempre caminhar com ternura sobre o esplendor a preto e branco que é o passeio público alfacinha.
É verdade que há o lado prático. Há muito buracos porque as pedras saltam e elevações por causa das raízes das árvores. O Sr. Costa tem que ter mais olho nisto. A manutenção e a conservação (in)existentes não chegam. É preciso mimar mais o chão que se pisa. Dar-lhe dignidade e carinho.
Porém, juro aqui a pés juntos, que prefiro andar de saltos rasos a vida toda do que ver esta relíquia nacional ser dispensada porque não é muito funcional. É funcional sim senhor.Está é meia descalça.
Posto isto,
Viva a calçada!

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