domingo, 19 de janeiro de 2014

Com ou sem elas?

Lisboa é cidade boémia e de doce embriaguez que por tudo e por nada ergue os copos num brinde e aclama: à nossa.
Os copos cheios manifestam alegrias, abafam tristezas, brilham de felicidade ou tremem de frustração. Ou então, não. O álcool não tem que ter um pretexto. Bebe-se.

Em Lisboa consome-se grande variedade de pinga. Do mais delicado licor ao vinho a martelo. Porém a rainha de Lisboa, nesta liquida matéria, é a menina Ginjinha.

A Ginjinha é a bebida oficial da cidade. Coradinha e açucarada. Quem nunca brindou com ela, não sentiu o sabor da capital. E nem que venha a malta de Óbidos e da Batalha toda junta reclamar a propriedade, eu não me rendo. A Ginjinha é património liquido de Lisboa.


Com elas. Sem elas. É ver os devotos e os turistas à porta da Ginjinha do Rossio ou do Pirata. É por-se na fila e apreciar a experiência. É sentir as solas dos sapatos a colar ao chão pela viscosidade que o precioso liquido espalha quando verte dos copos. É ouvir o senhor por trás do balcão perguntar: “Com ou sem?” e escolher uma de cada. É equilibrar os copinhos na mão e tentar sair para a rua sem perder uma gota. É beber. Beber com carinho e respeito. Brindar. Cavaquear com os amigos à volta dos copos.

Repete-se o ritual as vezes necessárias para se ficar feliz.

A cerimónia da Ginjinha pode decorrer em vários locais. Os mais famosos templos de culto são a Ginjinha do Rossio ao pé do Teatro Nacional, o Pirata nos Restauradores, a Ginjinha sem Rival, a Ginjinha do Carmo, a Espinheira, a Rubi, a Popular, assim que me lembre de repente. Há também a Tendinha do Rossio, imortalizada pela Hermínia Silva no fado homónimo. Vão a todas. No mesmo dia de preferência. Só assim verão como é difícil escolher a melhor.

Para mim é um mistério como é que um licor feito com ginja, açúcar amarelo e aguardente é tão bom. A verdade é que é. Aquela doçura misturada com a acidez da ginja é singular e deliciosa. Aliás, nada melhor do que ser rigorosa e exacta na explicação. Nada como a precisão. Sabem como sabe a Ginjinha? Sabe que nem ginjas.

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