Lisboa é cidade boémia
e de doce embriaguez que por tudo e por nada ergue os copos num
brinde e aclama: à nossa.
Os copos cheios
manifestam alegrias, abafam tristezas, brilham de felicidade ou
tremem de frustração. Ou então, não. O álcool não tem que ter
um pretexto. Bebe-se.
Em Lisboa consome-se
grande variedade de pinga. Do mais delicado licor ao vinho a martelo.
Porém a rainha de Lisboa, nesta liquida matéria, é a menina
Ginjinha.
A Ginjinha é a bebida
oficial da cidade. Coradinha e açucarada. Quem nunca brindou com
ela, não sentiu o sabor da capital. E nem que venha a malta de
Óbidos e da Batalha toda junta reclamar a propriedade, eu não me
rendo. A Ginjinha é património liquido de Lisboa.
Com elas. Sem elas. É
ver os devotos e os turistas à porta da Ginjinha do Rossio ou do
Pirata. É por-se na fila e apreciar a experiência. É sentir as
solas dos sapatos a colar ao chão pela viscosidade que o precioso
liquido espalha quando verte dos copos. É ouvir o senhor por trás
do balcão perguntar: “Com ou sem?” e escolher uma de cada. É
equilibrar os copinhos na mão e tentar sair para a rua sem perder
uma gota. É beber. Beber com carinho e respeito. Brindar. Cavaquear
com os amigos à volta dos copos.
Repete-se o ritual as
vezes necessárias para se ficar feliz.
A cerimónia da Ginjinha
pode decorrer em vários locais. Os mais famosos templos de culto são
a Ginjinha do Rossio ao pé do Teatro Nacional, o Pirata nos
Restauradores, a Ginjinha sem Rival, a Ginjinha do Carmo, a
Espinheira, a Rubi, a Popular, assim que me lembre de repente. Há
também a Tendinha do Rossio, imortalizada pela Hermínia Silva no
fado homónimo. Vão a todas. No mesmo dia de preferência. Só assim
verão como é difícil escolher a melhor.
Para mim é um mistério
como é que um licor feito com ginja, açúcar amarelo e aguardente é
tão bom. A verdade é que é. Aquela doçura misturada com a acidez
da ginja é singular e deliciosa. Aliás, nada melhor do que ser
rigorosa e exacta na explicação. Nada como a precisão. Sabem como
sabe a Ginjinha? Sabe que nem ginjas.
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