domingo, 18 de maio de 2014

A Praça.








Qual é a pata direita do cavalo de D. José?


Majestade de todas as praças de Lisboa, a Praça do Comércio é a menina dos olhos da cidade. O meu coração acelera sempre um bocadinho quando avanço por ela. Há uma vertigem avassaladora e de respeito perante o assombro de amarelo e lioz que se eleva sobre o Tejo em direcção ao céu.

Praça das praças, já foi terreiro em frente ao Paço do Rei D. Manuel que resolveu agarrar na Corte e descer lá do alto do Castelo para viver à beira do rio e ver passar os navios que vinham do outro lado do mundo a cheirar a canela, açafrão e pimenta.


Sucumbiu ao terramoto de 1755, para se erguer a mando de D. Sebastião José de Carvalho e Melo, também conhecido por Marquês de Pombal. Foi então que de Terreiro do Paço passou a Praça do Comércio por dela se avizinharem as ruas dos mercadores das mais variadas artes, ofícios e negócios que floresceram com o brilho do ouro das Descobertas. E também porque o rei, não fosse a terra tremer outra vez, mudou o Paço para a Ajuda, zona menos afoita a ondas gigantes.

De frente para o Tejo. O Cais das Colunas impõe-nos a solidão de dois vigias a mirar eternamente o rio. Esperam os navios que vêm do lado da ponte que já trouxeram tesouros e escravos, histórias de marinheiros embriagados e hoje carregam lotes de turistas que vão ali desembarcar em Santa Apolónia para entrarem na cidade do fado e da sardinha e deixarem cá as suas moedinhas. Ou então os cacilheiros que chegam da banda de lá cheios de gente que vem trabalhar para a cidade e logo, ao fim do dia, há-de fazer o percurso inverso e ver Lisboa a afastar-se sob o azul do céu a escurecer.

A Norte. O Arco Triunfal da Rua Augusta onde a Glória coroa o Génio e o Valor. Por baixo portugueses que por obras valerosas da lei da morte se libertaram.
Viriato.
Nun'Álvares Pereira.
Vasco da Gama
Marquês de Pombal, que dizem as más línguas, nunca se deixaria cair no esquecimento.
Com uma arrogância legítima, o arco, quase faz desaparecer os restantes 86 que ondulam na praça. Está ali para honrar as virtudes maiores para ensinamento de todos. Em Latim, claro.
 
A Nascente e a Poente os Torreões são como braços gigantes que nos encerram naquele quadrado de 4 hectares que transpira história. Ali mataram El-Rei D. Carlos e o seu primogénito em 1908, deixando o país mesmo à beirinha da República. Ali pararam chaimites no 25 de Abril de 1974. Ali se fizeram comícios, deram-se concertos, fez-se uma missa papal que parou Lisboa e decretam-se leis nos Ministérios. Já foi parque de estacionamento também.

Agora tem novidades. Tem esplanadas e discotecas. Tem espaço para circular e parar a mirar. Tem gente. Tem vida a circular.


A topar isto tudo, no meio da praça, altivo e real, está o D. José, montado no seu cavalo. Foi ele que mandou reconstruir a cidade depois de 1755. Foi ele que deixou o Marquês de Pombal brilhar e dar nome à Baixa. Debaixo das patas da sua montada, cobras para simbolizar as dificuldades do reinado.
Uma pata da frente torcida no ar. A outra pata direita no chão.
A esquerda.

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