Qual é a pata direita do
cavalo de D. José?
Majestade de todas as
praças de Lisboa, a Praça do Comércio é a menina dos olhos da
cidade. O meu coração acelera sempre um bocadinho quando avanço
por ela. Há uma vertigem avassaladora e de respeito perante o
assombro de amarelo e lioz que se eleva sobre o Tejo em direcção ao
céu.
Praça das praças, já
foi terreiro em frente ao Paço do Rei D. Manuel que resolveu agarrar
na Corte e descer lá do alto do Castelo para viver à beira do rio
e ver passar os navios que vinham do outro lado do mundo a cheirar a
canela, açafrão e pimenta.
Sucumbiu ao terramoto de
1755, para se erguer a mando de D. Sebastião José de Carvalho e
Melo, também conhecido por Marquês de Pombal. Foi então que de
Terreiro do Paço passou a Praça do Comércio por dela se
avizinharem as ruas dos mercadores das mais variadas artes, ofícios
e negócios que floresceram com o brilho do ouro das Descobertas. E
também porque o rei, não fosse a terra tremer outra vez, mudou o
Paço para a Ajuda, zona menos afoita a ondas gigantes.
De frente para o Tejo. O
Cais das Colunas impõe-nos a solidão de dois vigias a mirar
eternamente o rio. Esperam os navios que vêm do lado da ponte que já
trouxeram tesouros e escravos, histórias de marinheiros embriagados
e hoje carregam lotes de turistas que vão ali desembarcar em Santa
Apolónia para entrarem na cidade do fado e da sardinha e deixarem cá
as suas moedinhas. Ou então os cacilheiros que chegam da banda de lá
cheios de gente que vem trabalhar para a cidade e logo, ao fim do
dia, há-de fazer o percurso inverso e ver Lisboa a afastar-se sob o
azul do céu a escurecer.
A Norte. O Arco Triunfal
da Rua Augusta onde a Glória coroa o Génio e o Valor. Por baixo
portugueses que por obras valerosas da lei da morte se libertaram.
Viriato.
Nun'Álvares Pereira.
Vasco da Gama
Marquês de Pombal, que dizem as más línguas, nunca se deixaria cair no esquecimento.
Com uma arrogância legítima, o arco, quase faz desaparecer os restantes 86 que ondulam na praça. Está ali para honrar as virtudes maiores para ensinamento de todos. Em Latim, claro.
Viriato.
Nun'Álvares Pereira.
Vasco da Gama
Marquês de Pombal, que dizem as más línguas, nunca se deixaria cair no esquecimento.
Com uma arrogância legítima, o arco, quase faz desaparecer os restantes 86 que ondulam na praça. Está ali para honrar as virtudes maiores para ensinamento de todos. Em Latim, claro.
A Nascente e a Poente os
Torreões são como braços gigantes que nos encerram naquele
quadrado de 4 hectares que transpira história. Ali mataram El-Rei D.
Carlos e o seu primogénito em 1908, deixando o país mesmo à
beirinha da República. Ali pararam chaimites no 25 de Abril de 1974.
Ali se fizeram comícios, deram-se concertos, fez-se uma missa papal
que parou Lisboa e decretam-se leis nos Ministérios. Já foi parque
de estacionamento também.
Agora tem novidades. Tem
esplanadas e discotecas. Tem espaço para circular e parar a mirar.
Tem gente. Tem vida a circular.
A topar isto tudo, no
meio da praça, altivo e real, está o D. José, montado no seu
cavalo. Foi ele que mandou reconstruir a cidade depois de 1755. Foi
ele que deixou o Marquês de Pombal brilhar e dar nome à Baixa.
Debaixo das patas da sua montada, cobras para simbolizar as
dificuldades do reinado.
Uma pata da frente
torcida no ar. A outra pata direita no chão.
A esquerda.
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