Ó Capitão, meu Capitão,
E agora o que fazemos ao estado a que
chegámos?
E agora o que fazemos aos cravos
murchos nos canos das armas enferrujadas?
Agora que tanto de ti precisamos para
arrancares de Santarém e tomares o Terreiro do Paço.
Agora é outra vez a hora.
Agora.
Quem sairia do Terreiro do Paço, que
já estava ganho, e entraria sozinho na Ribeira das Naus com uma
granada no bolso para se fazer explodir caso fosse preciso um mártir
e encararia os tanques da velha senhora?
Quem agora se recusaria a disparar
sobre ti?
Quem subiria ao Carmo e cercaria o
quartel?
Quem se recusaria a forçar o Caetano a
sair por ser só um capitão?
Quem faria a revolução bonita sem
querer nada para si?
Agora.
Agora andas em todas as bocas e põem-te
coroas de cravos em monumentos. Esquecidos que não querias glórias
nem poder. Querias paz e democracia.
Querias que mais nenhum rapaz fosse
carne para canhão em África e que mais ninguém tivesse medo.
Querias liberdade.
E, olha, nada foi em vão. Agora posso
pôr-me em cima desta mesa imaginária e dizer que precisamos de outro
Salgueiro Maia para avançar sem medo e sem ganância.
Ó Capitão, meu Capitão.
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