domingo, 27 de abril de 2014

Meu herói nacional.

Ó Capitão, meu Capitão,

E agora o que fazemos ao estado a que chegámos?

E agora o que fazemos aos cravos murchos nos canos das armas enferrujadas?
Agora que tanto de ti precisamos para arrancares de Santarém e tomares o Terreiro do Paço.

Agora é outra vez a hora.

Agora.

Quem sairia do Terreiro do Paço, que já estava ganho, e entraria sozinho na Ribeira das Naus com uma granada no bolso para se fazer explodir caso fosse preciso um mártir e encararia os tanques da velha senhora?
Quem agora se recusaria a disparar sobre ti?
Quem subiria ao Carmo e cercaria o quartel?
Quem se recusaria a forçar o Caetano a sair por ser só um capitão?
Quem faria a revolução bonita sem querer nada para si?

Agora.

Agora andas em todas as bocas e põem-te coroas de cravos em monumentos. Esquecidos que não querias glórias nem poder. Querias paz e democracia.

Querias que mais nenhum rapaz fosse carne para canhão em África e que mais ninguém tivesse medo. Querias liberdade.
E, olha, nada foi em vão. Agora posso pôr-me em cima desta mesa imaginária e dizer que precisamos de outro Salgueiro Maia para avançar sem medo e sem ganância.


Ó Capitão, meu Capitão.

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