A sardinha é a rainha
das grelhas lisboetas. Até ao fim do Verão para qualquer lado que o
vento sopre, leva consigo o cheirinho suculento das sardinhas a
grelhar sobre o carvão.
Por essa Lisboa fora é
ver a hora de almoço a aproximar-se e o fumo a invadir as ruas, a
entranhar-se nas roupas e nos cabelos, a encher de volúpia as
narinas e a criar nascentes de água da boca de quem passa.
Nos locais de trabalho
combinam-se almoços, as vizinhas gritam de uma janela para a outra,
os telemóveis tocam em combinanços, os velhotes vão mais cedo para
ficarem com a melhor mesa. Tudo por uma sardinhada.
Gordinhas e a pingar é
que se querem. Por cima de uma fatia de broa ou de outro pão grande
qualquer. Com batatas cozidas com a casca. E salada. Porque a
sardinha não vive sem os pimentos assados. Que por sua vez andam
sempre com a alface e o tomate. Bom ou mau vinho. Temos o banquete
lisboeta montado.
E é ver as toalhas de
papel à porta dos estabelecimentos a dizer que há sardinha assada.
E é ver os turistas a perguntarem onde podem comer sardines. E é
ver os estabelecimentos comercias a diversificarem-se nas linguas e a
escreverem nas mesmas toalhas: Today sardines.
E é ver a sardinha a
virar símbolo da cidade alfacinha. Em pano, em cartão, para o
frigorífico, em barro, para o porta-chaves. A sardinha é património
saboroso de Lisboa e os lisboetas dão-lhe carinho.
Virá mais à frente a
noite do Santo António em que Lisboa causa problemas na camada de
ozono com tanto grelhador. Nessa noite, do grelhador mais sofisticado
ao bidão cortado ao meio, tudo serve para agradar ao arraial.
O lisboeta tem um coração
que palpita pela sardinha com uma força que não sente por mais
peixe nenhum. É paixão que sobe ao céu da boca e os deixa com
taquicardia. A sardinha retribui tanta emoção com ómega 3. E aqui
está a prova que um amor tão arrebatador, pode ser saudável.
Agora que a época
oficial da sardinha abriu é comer todas as que se puder. Para que da
próxima vez que falar delas com alguém possa dizer: Estavam mesmo
boas. Comi dez.
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