Todos os anos em Junho é
a mesma azáfama. Uns dias antes limpa-se a capela. Cortam-se as
ervas do pequeno adro e lava-se o altar. Chama-se uma mulher casada
para levantar a pedra debaixo do santo, porque reza a lenda que moça
casadoira que a levante, ficará para sempre assim. À espera de
noivo. Volta-se a colocar a pedra e põe-se o santo lá em cima.
Na sexta-feira faz-se uma
sardinhada com toda a povoação. Vêm vizinhos de terras próximas.
As últimas da música pimba a tocar no altifalante e é dançar até
fartar.
No sábado enfeitam-se os
andores. Vem a Rosa que tem jeitinho para a coisa. Cravos brancos
para a Senhora de Fátima, cor-de-rosa para a Santa Rita, amarelos
para a Santa Luzia e vermelhos para o santo.
À noite no único café
da terra, encontram-se as caras que só se vêm nestes dias. Fala-se
da vida e da crise. Dos que morreram. Dos que nasceram e de quem
voltou de longe e construiu casa. Ou então bebem-se só uns copos e
jogam-se umas cartas. Tudo à saúde do santo.
No domingo bem cedo os
altifalantes da capela vertem músicas católicas. Em cada cozinha os
cabritos estão a dar entrada no forno e as batatas vão logo a
seguir. Faz-se o arroz quando se voltar da missa.
É dia de roupa nova.
Quem a tem trata de a vestir. Quem não tem, vai ao guarda-vestidos
buscar o melhor fato, aquele que vestiu para o casamento da filha da
Custódia no ano passado. Passadinho a ferro está muito bem.
Por volta das onze horas
todos os caminhos vão dar à capela. A banda da Boa Aldeia já está
lá afinadinha. O Padre Paulo começa a missa. Não cabem todos na
capela. Os mais jovens e os homens ficam cá fora. Sentam-se no muro
ou encostam-se às paredes. Todos se abrigam do sol o melhor que
podem. A esta hora ele bate com força. Mas o santo é milagreiro e
há-de livrar a todos de um escaldão.
Depois da missa, em
grupos de quatro pegam nos andores e faz-se a procissão à volta da
terra. No dia seguinte muitas costas hão-de doer. Muitas promessas
de que para o ano não me apanham a carregar com a Santa Rita, se
hão-de fazer. Mas hoje não. Hoje carrega-se tudo com fé e devoção.
O cortejo sai e passa
pelo Curro. Segue por dentro do povo. Os batoteiros cortam caminho
pela Quelha da Gata. Os fiéis hão-de passar ao Cargueirinho, pela
Farrapa e descer a estrada de volta à capela.
Agora é hora de voltar
para casa e almoçar. As famílias juntam-se à volta da mesa e está
feito mais um dia de Santo António. Na Várzea. A minha querida
aldeia.
É sempre assim todos os
anos. De doze para treze vou sardinhar em Lisboa e depois venho aqui
juntar-me aos meus e festejar o meu Santo António. Que me perdoem os
alfacinhas esta traição, mas para mim ele já era da Várzea antes
de ser de Lisboa.
Há umas pizzas com a base feita em couve-flor que são uma maravilha!
ResponderEliminarÉ provar isso!
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