domingo, 15 de junho de 2014

O Santo Padroeiro.

Todos os anos em Junho é a mesma azáfama. Uns dias antes limpa-se a capela. Cortam-se as ervas do pequeno adro e lava-se o altar. Chama-se uma mulher casada para levantar a pedra debaixo do santo, porque reza a lenda que moça casadoira que a levante, ficará para sempre assim. À espera de noivo. Volta-se a colocar a pedra e põe-se o santo lá em cima.

Na sexta-feira faz-se uma sardinhada com toda a povoação. Vêm vizinhos de terras próximas. As últimas da música pimba a tocar no altifalante e é dançar até fartar.

No sábado enfeitam-se os andores. Vem a Rosa que tem jeitinho para a coisa. Cravos brancos para a Senhora de Fátima, cor-de-rosa para a Santa Rita, amarelos para a Santa Luzia e vermelhos para o santo.

À noite no único café da terra, encontram-se as caras que só se vêm nestes dias. Fala-se da vida e da crise. Dos que morreram. Dos que nasceram e de quem voltou de longe e construiu casa. Ou então bebem-se só uns copos e jogam-se umas cartas. Tudo à saúde do santo.

No domingo bem cedo os altifalantes da capela vertem músicas católicas. Em cada cozinha os cabritos estão a dar entrada no forno e as batatas vão logo a seguir. Faz-se o arroz quando se voltar da missa.

É dia de roupa nova. Quem a tem trata de a vestir. Quem não tem, vai ao guarda-vestidos buscar o melhor fato, aquele que vestiu para o casamento da filha da Custódia no ano passado. Passadinho a ferro está muito bem.

Por volta das onze horas todos os caminhos vão dar à capela. A banda da Boa Aldeia já está lá afinadinha. O Padre Paulo começa a missa. Não cabem todos na capela. Os mais jovens e os homens ficam cá fora. Sentam-se no muro ou encostam-se às paredes. Todos se abrigam do sol o melhor que podem. A esta hora ele bate com força. Mas o santo é milagreiro e há-de livrar a todos de um escaldão.

Depois da missa, em grupos de quatro pegam nos andores e faz-se a procissão à volta da terra. No dia seguinte muitas costas hão-de doer. Muitas promessas de que para o ano não me apanham a carregar com a Santa Rita, se hão-de fazer. Mas hoje não. Hoje carrega-se tudo com fé e devoção.

O cortejo sai e passa pelo Curro. Segue por dentro do povo. Os batoteiros cortam caminho pela Quelha da Gata. Os fiéis hão-de passar ao Cargueirinho, pela Farrapa e descer a estrada de volta à capela.

Agora é hora de voltar para casa e almoçar. As famílias juntam-se à volta da mesa e está feito mais um dia de Santo António. Na Várzea. A minha querida aldeia.


É sempre assim todos os anos. De doze para treze vou sardinhar em Lisboa e depois venho aqui juntar-me aos meus e festejar o meu Santo António. Que me perdoem os alfacinhas esta traição, mas para mim ele já era da Várzea antes de ser de Lisboa.


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