domingo, 22 de junho de 2014

Minha flor de Jacarandá.








Este texto seria tardio se o Verão não andasse a brincar às escondidas connosco e não teimasse em não se deixar descobrir. Porém, como estamos meteorologicamente no principio de Maio, é mesmo oportuno falar hoje desta árvore maravilhosa que enche os céus das avenidas de nuvens lilás. O Jacarandá.

Os Jacarandás de Lisboa são mimosos.

Mimosos porque mimam os olhos de quem passa com um tombar de flores frágeis, em cadência lenta e delicada, sobre a calçada portuguesa.

Mimosos porque assim se designam. Jacarandá-Mimoso.

Jacarandá é bonita palavra que quase se canta e adoça a boca e soa a coisa vinda do Brasil. E veio.
No começo do séc. XIX, o Professor Avelar Brotero, trouxe-os de lá e aclimatizou-os no Jardim Botânico da Ajuda. Depois espalhou-os pela cidade. E Lisboa, cidade habituada a outras cores e outras flores, entranhou-os sem estranhar. Pela Avenida D. Carlos I, no Largo do Carmo, no Campo Pequeno é bom de ver, nesta altura do ano, essas flores arroxeadas em forma de trompete a darem música de fundo à capital.

E não há poeta que goste de rimar esta cidade que deixe escapar esta maravilha. É que o Jacarandá põe-se mesmo a jeito para o poema. Desde a cor melancólica, ao cair celestial, passando pelo prenúncio de que o bom tempo está a chegar até às saudades que deixa quando desaparece, a flor do Jacarandá é musa de fazer frente à Ofélia do Pessoa.

Estas flores enlouquecem sazonalmente e particularmente um grupo de lisboetas designado comummente por automobilistas. É que o Jacaradá gosta tanto de morar em Lisboa e só tem seis semanas do ano para o demonstrar que envolve as suas flores de caramelo e cola-as às viaturas que estão estacionadas sob os seus ramos. É uma tentativa de prolongar as suas demonstrações de amor. O automobilista, quando chega depois de um dia de trabalho, cansado, e se depara com a sua viatura coberta de flores, leva aquilo muito a mal. É que um amor assim tão doce só sai com muita esfregadela e baldes de água com sabão.

E o peão também se queixa. É sempre difícil circular por uma calçada portuguesa que quer ir
connosco. Agarradinhas à sola dos sapatos, as flores acompanham-nos até ao infinito.

Mas nada disto é assim tão importante. Porque daqui por uns dias a doçura vai embora. Daqui a pouco já andamos todos a suspirar de saudades pintadas de violeta e a cantarolar a música do Vitorino “Flor do Jacarandá, cai leve no passeio, céu d'outro mar sonhado, chão de anilado estio.”

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