Lisboa é cidade dada ao
postal. Da viela mais vadia à praça mais arejada. Do rio ao
casario. A cidade é uma profusão de imagens em tons diversos e de
ângulos tão incertos e improváveis que é inglória tarefa
discorrer em longas palavras e compor em texto.
Ora vejam.
Um cacilheiro a cruzar o
Tejo ao final da tarde sob o azul do céu já morno e a deixar um
risco de espuma branca atrás de si.
Um gato malhado e gordo
preguiçosamente deitado a dormitar no parapeito de uma janela aberta
numa tarde solarenga.
Um prédio pombalino com
janelas velhas de madeira com a tinta descascada. Cada janela uma
cortina diferente. Algumas com vidros partidos. Umas lavadas outras
sujas. Umas com gente dentro. Outras abandonadas.
Uma flor a crescer torta
no telhado vermelho descorado de um prédio.
Uma pomba poisada numa
das colunas do Cais das Colunas.
Um eléctrico, pode ser o
28, a passar numa rua estreita, pode ser as Escolas Gerais, cheio de
turistas por dentro e com miúdos pendurados do lado de fora junto à
porta traseira.
Um candeeiro antigo com a
luz amarela a alumiar a rua vazia.
Um velhote sentado no
banco a ver os putos a brincar no parque infantil do Príncipe Real.
Uma gaivota a mirar o rio
poisada no cais em Santa Apolónia.
Um rosto esculpido pelo
Vhils numa parede de uma escola que já não ensina atrás de um
portão na Rua das Gaivotas.
A senhora das castanhas
com o carrinho a fumegar ao fim do dia à entrada da Rua Augusta.
A chuva a bater no rio.
A ponte a cortar o azul
luminoso.
A cidade a amanhecer
azul.
A cidade a anoitecer
azul.
Por hoje, são estes
postais que vos mando.
Espero que vos vão
encontrar bem.
Sem comentários:
Enviar um comentário