domingo, 1 de junho de 2014

Postal de Lisboa.


Lisboa é cidade dada ao postal. Da viela mais vadia à praça mais arejada. Do rio ao casario. A cidade é uma profusão de imagens em tons diversos e de ângulos tão incertos e improváveis que é inglória tarefa discorrer em longas palavras e compor em texto.

Ora vejam.

Um cacilheiro a cruzar o Tejo ao final da tarde sob o azul do céu já morno e a deixar um risco de espuma branca atrás de si.

Um gato malhado e gordo preguiçosamente deitado a dormitar no parapeito de uma janela aberta numa tarde solarenga.

Um prédio pombalino com janelas velhas de madeira com a tinta descascada. Cada janela uma cortina diferente. Algumas com vidros partidos. Umas lavadas outras sujas. Umas com gente dentro. Outras abandonadas.

Uma flor a crescer torta no telhado vermelho descorado de um prédio.

Uma pomba poisada numa das colunas do Cais das Colunas.

Um eléctrico, pode ser o 28, a passar numa rua estreita, pode ser as Escolas Gerais, cheio de turistas por dentro e com miúdos pendurados do lado de fora junto à porta traseira.

Um candeeiro antigo com a luz amarela a alumiar a rua vazia.

Um velhote sentado no banco a ver os putos a brincar no parque infantil do Príncipe Real.

Uma gaivota a mirar o rio poisada no cais em Santa Apolónia.

Um rosto esculpido pelo Vhils numa parede de uma escola que já não ensina atrás de um portão na Rua das Gaivotas.

A senhora das castanhas com o carrinho a fumegar ao fim do dia à entrada da Rua Augusta.

A chuva a bater no rio.

A ponte a cortar o azul luminoso.

A cidade a amanhecer azul.

A cidade a anoitecer azul.

Por hoje, são estes postais que vos mando.
Espero que vos vão encontrar bem.


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